quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Uma semana depois do terremoto, capital haitiana continua um caos

Luciana Lima e Rivadávia Severo
Enviados Especiais

Porto Príncipe - Uma semana depois do terremoto que abalou o Haiti, a capital do país permanece mergulhada no caos. Grande parte da população vaga pelas ruas, aparentemente sem destino. Há escombros por toda parte e reclamações de que a ajuda humanitária não chega a Porto Príncipe.

A população busca ajuda em todo lugar, aglomera-se em frente ao aeroporto, em frente à Embaixada dos Estados Unidos e nos pontos de ônibus e tap taps (tipo de veículo muito popular no país) em busca de emprego ou de uma forma de deixar o país. Outros, que não têm recursos para migrar concentram-se em qualquer ponto em que haja a mínima possibilidade de conseguir água e comida.

No aeroporto, dezenas de contêineres com mantimentos vindos dos quatro cantos do mundo aguardam para ser distribuídos. Os acampamentos de refugiados estão espalhados às centenas pela cidade, abrigando parte da população, que ficou sem casa, e os que temem um novo tremor de terra.

O comerciante de roupas Charles Erilhomme, de 54 anos, que vagava em frente ao Palácio Nacional do Haiti, reclama que há uma semana não tem trabalho, não tem casa e que falta água e um pouco de comida. Ele conta que, quando começou o terremoto, jogou-se para fora de casa. "Machuquei o braço, mas me salvei. Pessoas da minha família morreram.” Charles ainda exibe cicatrizes nos braços..

A cidade dá sinais de que quer voltar à normalidade. Alheia ao comércio formal, que ainda não abriu as portas, uma economia ambulante começa a pulsar nas precárias calçadas de Porto Príncipe. Vende-se de tudo: manga, cana-de-açúcar, verduras com aspecto passado do ponto, feijoada e refeições com frango, carne de porco, arroz e feijão, e um refresco improvisado com gelo e xarope. Também pode-se cortar e trançar o cabelo e fazer a barba.

Hoje (19), no bairro Fort Ronde, uma área extremamente pobre da cidade, militares brasileiros distribuíram água e biscoitos. Ao perceber a chegada do caminhão, a multidão comemorou e logo começou a se organizar em fila, hábito que revela que a comida só chega ao local por meio de ajuda humanitária.

“A gente nem precisa pedir para eles entrarem em fila. Eles já se organizam”, comentou um militar que trabalhou na distribuição de um litro e meio de água e três pacotes de biscoito para cada pessoa. As crianças são as que mais sofrem na espera, imprensadas nas barreiras formadas pelos militares, ante o desespero dos adultos e idosos que lutam para entrar na fila.

O capitão de fragata brasileiro Ítalo Monsores diz que o problema da falta de segurança não chega a ser grave, embora reconheça que atrapalha a distribuição da ajuda humanitária. Segundo Monsores, a violência nos bairros pobres é apenas pontual. “Não temos relatos de que os presos [que escaparam de cadeias destruídas no terremoto] estejam atuando. Que as gangues estejam agindo”. No entanto, em Bel-Air, bairro pobre da área central que foi devastada, um corpo nu com os pés amarrados continua jogado no asfalto, um caso típico de linchamento por moradores que identificaram a vítima como ladrão ou assassino.


Edição: Nádia Franco
Fonte: Agência Brasil

Nenhum comentário:

Últimos Artigos