sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A Morte do Rio Salgado - Por: Luiz Domingos de Luna


É urgente uma política de conscientização sobre a importância da relação entre o homem e seu espaço geográfico, pois, o nível de harmonia entre os seres vivos e o meio ambiente é condição básica para a continuidade da vida no planeta.

Este artigo é um sinal de alerta para que as autoridades, as instituições e a sociedade como um todo possam refletir que o progresso, a ocupação humana de forma desordenada e a interatividade social, sem uma preocupação com o meio ambiente, sem uma política consistente de avaliação sobre os ecossistemas, e principalmente, sobre a agressão gratuita ao Rio Salgado pode se converter numa situação irreversível e danosa a toda a população da região do Cariri;
Com implicações devastadoras para todo o sul do Estado do Ceará, Os Impactos ambientais causados pela violência com o Rio Salgado, já são visivelmente sentidos pela diminuição e até mesmo extinção da fauna fluvial e da flora ciliar, pois ao primeiro contato com os habitantes mais antigos que viveram toda sua vida ao lado do leito do rio, se observa, um clima de saudosismo, tristeza, onde enumeram inúmeras espécies de peixes, aves e vegetação que já não existem e muitas vezes são raros os exemplares que até bem pouco tempo existiam em abundância. 


O Rio Salgado é uma prova viva da rapidez de destruição deste ecossistema tão importante e vital para a nossa região. As recentes enchentes, onde centenas de casas, pontes e barragens, foram destruídas pelo rio Salgado (janeiro/fevereiro, 2008) é uma reação violenta da natureza, quando esta, é agredida gratuitamente, sem nenhum planejamento, sem nenhum estudo científico prévio, e quando é tratada sem seriedade pelo homem. 
Enquanto a água está sendo reconhecida mundialmente como o bem mais precioso do século, o rio Salgado está morrendo, pois os dejetos e resíduos doméstico, industriais, hospitalares e públicos estão sendo despejados no rio que corta os municípios de Crato-Ce, Juazeiro do Norte-Ce, Barbalha, Brejo Santo, Mauriti, Missão Velha, Milagres, Caririaçu, Aurora, Lavras da Mangabeira, Cedro e Icó desembocando no Rio Jaguaribe abaixo do açude Orós, {após a ponte de Piquet Carneiro} ao longo deste percurso o Salgado é poluído e como consequencia contamina o lençol freático da região. 


O Rio Salgado necessita urgentemente de uma limpeza geral e uma despoluição completa, pois além de ser fonte de vida para as comunidades ribeirinhas, é também centro da produção agropecuária no sul do Ceará.

Enviado por Luiz Domingos de Luna

Penitentes com novo decurião

A Ordem dos Penitentes está com novo representante, após o falecimento do decurião Joaquim Mulato
Severino Antônio Rocha era ajudante de Joaquim Mulato na Ordem dos Penitentes. Após a morte do líder, assume a função de chefe, com o título de decurião (Foto: ANTÔNIO VICELMO)
Barbalha. Com a morte do Mestre da Cultura Joaquim Mulato de Souza, que foi vítima de um atropelamento na última segunda-feira, o ajudante de decurião, Severino Antônio Rocha, assume o comando da Ordem — fundada em 1860 pelo Padre Ibiapina, com o objetivo de domar os desejos da carne e as fantasias do espírito, por meio da penitência. No dia do velório de Mulato, o grupo se reuniu na casa de Severino e assumiu o compromisso de manter a confraria. “Nós nascemos e crescemos juntos e vamos morrer juntos”, sentenciou o novo chefe dos penitentes.

Com 84 anos de idade, Severino disse já se sentir cansado. “Não tenho mais disposição de fazer longas caminhadas, como acontecia quando era novo”, reconhece. Sua intenção é entregar o comando do grupo aos mais novos. No entanto, adverte que não é fácil ser penitente. Os eventuais candidatos passam por um período de observação. O primeiro obstáculo é o próprio ritual. Pouca gente aceita sair da comodidade de sua casa, durante a noite, para rezar nos cemitérios.

O novo decurião acrescenta que o penitente deve ter um comportamento exemplar. “O integrante do grupo não pode ficar por aí bebendo cachaça e fazendo desordens como é costume na região”, afirma, destacando que a vida desses seguidores é uma vocação religiosa. “Foi com esse objetivo que o Padre Ibiapina criou as beatas, fundou casas de caridade e a Ordem dos Penitentes”, lembra o integrante do grupo, Francisco Severo.

Autoflagelação
Se depender dos mais jovens, o grupo não vai se acabar. O penitente Airton Sales da Silva, 28 anos, garante que a Ordem terá continuidade, com a participação ativa das novas gerações. “Enquanto eu estiver vivo, acompanharei o grupo cantando bendito e fazendo orações nos cemitérios”, promete. O compromisso de Airton é compartilhado pelos companheiros de fé.

Eles já não se autoflagelam como antigamente, quando se retalhavam com lâminas de ferro para purgar os pecados. O novo decurião diz que este sacrifício foi substituído por outras penitências. No entanto, mantêm o mesmo ritual ensinado pelo Padre Ibiapina, um sacerdote que viveu no Cariri, no final do século 18 e cujo processo de canonização está em andamento no Vaticano. Severino justifica que, conforme orientação da Igreja Católica, não tem mais sentido se martirizar, açoitando o próprio corpo até se esvair em sangue.

As autoflagelações nos cemitérios e nas cruzes de beira de estrada serviam, segundo crença popular, para aplacar a ira divina e aliviar as misérias do povo. A manifestação da fé do grupo dos penitentes tem suas raízes no período medieval, nas práticas das irmandades flagelantes que viveram no sul da Itália nos séculos XI e XII.

Segredo maçônico
O grupo desmistificou também o segredo maçônico que existia entre eles. Os integrantes da Ordem dos Penitentes tinham a sua identidade preservada. Ninguém, nem mesmo a família, sabia quem participava daquela confraria secreta que se reunia nas caladas da noite e andava nas estradas com o rosto coberto vestido com roupas medievais.

Mas o rito é o mesmo. Carregando uma cruz nas costas, o decurião puxa um grupo de 12 penitentes, a maioria residente no Sítio Cabeceiras, município de Barbalha. O cantochão ecoa nos pés de serra do Arajara, fazendo medo às crianças.

As vozes finas que se misturam ao canto dos adultos são de meninos que fazem parte do grupo. Eles param nas cruzes de beira de estrada e nos cemitérios. Só se recolhem quando o dia amanhece.

Período medieval
Os rituais de penitência apareceram nos primeiros séculos da era cristã para domar os desejos da carne e as fantasias do espírito. Na região do Cariri, as ordens de penitentes surgiram por volta de 1860, época de fome e peste, incentivadas pelo Padre Mestre Ibiapina. Na sua origem, os praticantes seguiam, com todo o rigor, as orientações religiosas, tais como o anonimato dos integrantes e as autoflagelações no corpo. Feitos nos cemitérios, nas datas em homenagem aos mortos, esses rituais eram secretos, e apenas os penitentes eram testemunhas do próprio sofrimento.

Ao longo dos anos, o movimento religioso passou a integrar a diversidade de manifestações da cultura popular. É comum ver os integrantes da Ordem em programações ligadas ao calendário religioso, como no Dia de Finados, Natal, mas também em agendas próprias da cultura popular, como no Dia do Folclore.

No ano passado, quebrando uma rotina de séculos, o chefe da Ordem, Joaquim Mulato, aceitou o convite e participou do desfile de uma escola de samba no Rio de Janeiro, que homenageava, em seu enredo, a presença dos nordestinos na formação do Estado.

"O penitente não pode ficar por aí bebendo cachaça e fazendo desordens como é costume na região".
"Nós nascemos e crescemos juntos e vamos morrer juntos na nossa Ordem".
Severino Antônio Rocha
Decurião dos Penitentes


ANTÔNIO VICELMO
Repórter

FUNDAÇÃO
1860 foi o ano de fundação da Ordem dos Penitentes, pelo Padre Ibiapina. O movimento religioso tem como objetivo domar os desejos da carne e as fantasias do espírito, por meio da penitência

Mais informações:
Sítio Cabeceiras, zona rural de Barbalha
Acesso pela Estrada Barbalha/Arajara
A comunidade não tem telefone

Fonte: Diário do Nordeste
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