Não somente os romeiros se sentem atraídos para Juazeiro. Agora, um novo público procura a cidade
Oferta de imóveis é constante em Juazeiro, com a demanda crescente do público universitário (Foto: Elizângela Santos)
Juazeiro do Norte. Uma cidade que, aos poucos, vem se ajustando a um novo perfil. Com o crescimento da demanda acadêmica e com a chegada, em pouco menos de uma década, de cursos universitários públicos e particulares, Juazeiro começa a acordar para a realidade. Só que ainda precisa se preparar melhor para de adaptar à demanda de um público que, a cada dia, aumenta procurando imóveis para residir. Com isso, cresce junto a especulação imobiliária. São casas, apartamentos e terrenos que têm seus preços majorados em determinadas áreas do município, de forma assustadora.
A especulação imobiliária torna-se evidente, com um aumento de preços em áreas que antes não despertavam tanto o interesse de construtores. É o caso do bairro Planalto e alguns terrenos do bairro Lagoa Seca, um dos mais valorizados da cidade, que hoje assume um novo perfil. Nas proximidades do Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC - Cariri), estão também a Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte (FMJ), particular, o Instituto Médico Legal (IML), entre outros cursos. Na área, terrenos que há pouco mais de dois anos custavam em torno de R$ 3,00 o metro quadrado, hoje custam R$ 70,00, aproximadamente, o mesmo espaço.
Público crescente
Mais cinco cursos estão sendo previstos pela UFC para serem instalados em 2010. Uma demanda que cresce a cada dia. Hoje Juazeiro comporta cerca de 50 cursos. A Faculdade Leão Sampaio hoje está com 10. Atende a um público de 10 mil alunos, sendo classificada como a terceira universidade particular do Estado. Na última sexta, recebeu em São Paulo o prêmio Destaque Nacional no Ensino Universitário, concedido pela Ordem dos Parlamentares do Brasil.
Segundo o diretor da Faculdade Leão Sampaio, Jaime Romeiro de Sousa, 60% dos alunos da instituição moram fora do eixo Crato, Juazeiro e Barbalha, conhecido como triângulo Crajubar. Cerca de 75% dos professores, ou seja, cerca de 150 de um quadro de 200 docentes são de fora. “Nos grandes condomínios do Cariri estão morando os meus coordenadores e professores”, ressalta. Esse, com certeza, é um dos grandes filões em Juazeiro do Norte e no Cariri, que está alavancando a construção civil no Cariri, que vive um dos seus melhores momentos.
Essa, pelo menos, é uma visão não só dos administradores das universidades, mas dos próprios construtores. A superintendente do Sindicato da Indústria da Construção Civil, Patrícia Coelho, diz que há pelo menos seis anos, o mercado da construção civil do município vive em constante ebulição. Prova disso, são os investimentos que a construtora da qual administra tem feito na cidade, para diferentes públicos, com construções incorporadas.
Ou seja, condomínios para pessoas de poder aquisitivo mais alto e de nível médio estão sendo feitos. Antes, a empresa investia em construções fora do Estado, principalmente no setor público, a exemplo de conjuntos habitacionais, mas por conta de uma necessidade que se apresenta dentro do município juazeirense, as atenções estão voltadas para cá. “São inúmeros fatores, não só as universidades, mas redes de supermercados, Delegacia da Polícia Federal, antes posto avançado, desenvolvimento do setor da saúde, além da demanda de vôos crescentes”, exemplifica. Ela ressalta a necessidade também de maior organização do setor da construção civil. São inúmeras construtoras que ainda atuam de forma irregular no município, que aos poucos estão buscando se adequar.
Mudança de perfil
O presidente da Associação dos Construtores do Cariri (ACC) Marcelino Emídio Maciel, concorda com a mudança do perfil imobiliário, em Juazeiro do Norte, atribuída ao fator desenvolvimento em vários setores da economia na cidade e, especialmente, às universidades. A sua grande preocupação está relacionada a alta dos preços dos terrenos, com a especulação imobiliária em alta. “Isso, de certa forma, acaba inviabilizando construções para pessoas de menos poder aquisitivo, que vão para as periferias da cidade”, diz, ao associar o crescimento acelerado a uma cidade em que as coisas acontecem precocemente. Para Jaime Romeiro, é um momento de transformação. E traz uma calma para os que um dia pretendem ter a sua moradia em áreas privilegiadas da cidade: “as coisas um dia vão voltar à normalidade, ao equilíbrio”, completa.
Porém, o município que se adaptou durante décadas ao turismo religioso, tem que se render a uma nova vocação. Ser moradia também para estudantes e professores ligados ao Ensino Superior. Mas, na realidade, os estudantes ainda sentem dificuldade de se instalar na cidade, por conta da adequação das moradias ao perfil dos universitários. Um deles é o estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará (UFC), campus do Cariri, D´Alessandro Gaspar. Depois que chegou de Juiz de Fora (MG), para se instalar na terra romeira, se encontrou, segundo ele, com a vocação religiosa até nas moradias da cidade.
O estudante afirma que foi difícil encontrar um novo local para se instalar em Juazeiro do Norte. Os preços, tendo como referencial o seu local de origem, Juiz de Fora, cidade com mais de 100 mil universitários, são bem reduzidos. Em contrapartida, as moradias estão adaptadas para visitantes que passam pouco tempo na cidade. “São casas com telhado ou forros, sem maior segurança. Isso acontece em muitas que procurei no Centro da cidade”, diz ele, ao ressaltar a sua necessidade atual para conseguir um novo local para morar. “Infelizmente, as casas ainda estão preparadas para romeiros, e não para universitários”.
ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter
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